Page 16 - (Re)bolar a História
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Maria Esther
Olá, eu sou a Maria Esther, uma mulher que resistiu para que nunca fosse
esquecida a história dos escravizados. Cresci com a voz sufocada dos meus
antepassados através dos relatos de dor, mas também de força. Eu vivia sozinha na
casa do meu pai, que não me deixava sair de casa para dançar samba. Toda vez
que eu tentava ir, ele me batia. Eu morava onde é hoje a Casa do Samba.
No samba, encontrei um caminho de felicidade, onde pude extravasar tudo
aquilo que me aprisiona de certa maneira.
Eu estava acostumada desde jovem a percorrer rodas de samba do interior
de São Paulo. Formava as batucadas da vida.
Minha disposição era implacável quando o assunto era samba! Encarei o bumbo
durante a minha vida mesmo contra os princípios do pai. Sou uma das fundadoras
da primeira escola de samba de São Paulo, que se chamava Lavapés, com muita
alegria!
Eu atuei na criação do primeiro grupo permanente de samba de Bumbo em
Pirapora do Bom Jesus. Reconheci na batida desse som o coração quente da minha
gente, do meu sangue, e hoje estou aqui para batucar, cantar, dançar ao som dos
tambores que elevam a minha alma acima do martírio sofrido por muitos.
Não foi fácil estar onde estou. Muitos preconceitos rodeavam em torno da
mulher, da descendente de indígena, da mãe… Diziam que samba não era meu
lugar. Mas eu nunca me calei! Enfrentei todos os preconceitos do mundo, pois meu
objetivo é fazer arte e não fazer silêncio. Meus ancestrais sempre estiveram comigo
e são meus libertadores.
Em Pirapora do Bom Jesus, fiz história. Meu Samba de Bumbo continua
ecoando por lá e por todo o povo que faz da musicalidade, coreografia e poesia, por
meio do negro escravizado e, hoje, cidadão. Feliz estou com meu brinco de ouro,
paetês, olhos delineados, maquiada, belíssima, pois essa sou eu… Cheia de vida e
que a glória do samba se torne infinita. Eu estou viva. Moro em Pirapora do Bom
Jesus, eu estou com 93 anos, mas eu nunca vou parar de dançar samba.
Arthur Miyamura, Bernardo Pescarin Dutra Rodrigues, Bianca de Almeida
Souza, Maria Jafet Ajaj Ribeiro e Valentina Mantovani Nunes
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