Page 19 - (Re)bolar a História
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Embaixatriz do samba


                       Eu me chamo Maria Esther de Camargo Lara, conhecida como embaixatriz

               do  Samba  de  Bumbo.   Enfrentei   muitas  dificuldades morando com meu pai que
               batia em mim, pois a vida toda eu queria dançar samba, para o desgosto dele. E

               como  que  ele  sabia  que  eu  iria  para  essas  rodas?  Boom,  no  bairro  em  que  eu
               morava, as pessoas faziam muito “buxixo”, sabe? “Magina” chegar em casa e levar

               “paulada”?
                       E  nessas  rodas  de  samba, conheci uma mulher que se chamava Deolinda

               Madre, conhecida como Madrinha Eunice, pois batizou várias crianças, que era uma

               grande figura pro samba, assim como eu!
                       Madrinha Eunice nasceu em Piracicaba e se mudou para São Paulo quando

               criança.  Ela  participava  de  várias  rodas  de  samba.  Com  este  costume,  quando
               adulta,  conheceu  o  carnaval  da  Praça  Onze,  no  Rio  de  Janeiro.  Assim, surgiu a

               ideia  de  criar  algo  parecido  em São Paulo. Então, em 1937, fundou a Sociedade

               Recreativa Beneficente Esportiva da Escola de Samba Lavapés, que eu frequentei.
               Com as cores vermelho e branco, a escola ainda está dançando pelas ruas e, em

               2022, completou 85 anos de existência.
                       Com o passar das décadas, muitas coisas mudaram, como o local de ensaio

               da escola, seu desempenho nas competições de carnaval e até seu nome, que, em

               2019,  recebeu  o  acréscimo  de  mais  duas  palavras:  “Pirata  Negro”.  A  história  da
               escola evidencia também a trajetória de ocupação da população negra na cidade de

               São Paulo.
                       Madrinha  Eunice  morreu  por  volta  dos  87  anos  em  2019  e  ganhou  uma

               estátua na Liberdade. Eu digo que ela merece.
                        Voltando para o assunto, já que a gente saiu muito “fora da caixa", nessas

               rodas  falavam  sobre  os escravizados, principalmente as mulheres escravizadas e

               negras. Elas eram vistas como máquinas de reprodução, aguentando o racismo e o
               machismo. Então, têm que ser homenageadas para acabar com essa ideia.









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