Page 22 - (Re)bolar a História
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Eu sou Maria Esther



                     Eu sou Maria Esther e essa é a minha história. Nasci em Pirapora do Bom

               Jesus, lugar onde descobri meu amor pelo samba, mas minha família não apoiava

               meu gosto.

                       Todos tinham muito preconceito e não gostavam de mim em rodas de samba,
               mas meu pai, Francisco, era o mais rígido. Sempre que eu ia sambar, ele me batia;

               por isso, desde os 12 anos eu ia escondida. Um dia, meu pai estava me batendo e
               um músico pediu para ele parar e me deixar participar do samba de roda. O pedido

               do homem comoveu meu pai, que, desde então, nunca mais me proibiu.

                        Fundei  dois  grupos  de  samba,  mas  nenhum  sozinha.  Missé  e  Eunice  me
               ajudaram. Os dois são grandes companheiros que eu jamais irei esquecer. Ao lado

               da madrinha Eunice, fundei a escola de samba Lavapés.
                      Seu nome verdadeiro é Deolinda Madre e o apelido de madrinha Eunice veio de

               seus 41 afilhados. Ela nasceu em Piracicaba em 1909, tinha origem africana e seus

               pais   já  foram  até  escravizados.  Ela só estudou até o quarto ano, pois precisava
               trabalhar para ajudar a família, mas, mesmo assim, era muito sábia.

                       Seu  marido  chamava-se  Francisco,  mas  era conhecido como Chico Pinga.
               Eu lembro que ela se separou dele, pois ele pediu para que ela escolhesse entre a

               escola de samba e ele. Deolinda decidiu ficar com o samba e se separou,  o que,
               inclusive, eu achei uma ótima escolha.

                       Honorato Missé era um  fazendeiro branco que tinha muita influência. Ele ia

               em  festas  de  ricos  e  nas  batucadas  ao  mesmo  tempo,  sem  ver  diferença  nos
               eventos. Em uma dessas vindas às apresentações de samba, eu o conheci. Com

               ele,  criei  o  Samba  de  Bumbo  e  fundei  o  Grupo  de  Samba  de  Pirapora  do  Bom
               Jesus. O Samba de Bumbo, ou samba de branco (como eu costumo chamar) tem

               um bumbo com som grave que manda no ritmo das rodas. É um samba misturado

               com poesia. E em 1940, ele me ofereceu a oportunidade de ajudá-lo na fundação do
               primeiro grupo de samba de Pirapora.

                       Vou falar sobre uma coisa muito importante, que muitos, como eu, praticam
               ou  praticavam  sem  saber,  a  Cidadania  Planetária.  É  a  responsabilidade  das



                                                                                                       22
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