Page 60 - (Re)bolar a História
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Nós, mulheres guerreiras

                       Oi, eu me chamo Maria Esther e hoje irei contar um pouco de minha história,
               da Madrinha Eunice e Aretha Duarte, valorizando a história das mulheres. Também
               vou  falar  do  meu  amigo Geraldo Filme. Nós quatro estamos ligados à história do
               samba. Vamos começar por mim.
                       Nasci em 2 de maio de 1924 em Pirapora do Bom Jesus. Eu tenho  quatro
               irmãos, um marido chamado José Vaz de Almeida e dois filhos.
                       Quando era mais nova, costumava fugir de casa para sambar, pois meu pai
               não gostava que eu participasse das festas. Quando ele descobria a minha fuga, me
               batia. Insisti em permanecer praticando aquilo que eu gostava, lutando para que as
               mulheres  tivessem  mais  espaço  na  sociedade  e  não  fossem  comandadas  por
               homens.
                       O  estilo  do  samba  de  Pirapora  foi  criado  pelos  escravizados,  que
               procuravam,  com  ele,  um  jeito  de  esquecer  suas  difíceis  vidas  e  buscar
               divertimento. Ele é como símbolo de luta e resistência. Eu tinha uma amiga que os
               pais eram ex-escravizados e me contava sobre a vida deles.
                       O nome dessa amiga era Eunice Deolinda Madre, mais era conhecida como
               Madrinha  Eunice,  pois  havia  batizado  muitas  pessoas,  assim  ganhando  esse
               famoso  apelido.  Nasceu  em  1909,  na  cidade  de  Piracicaba.  Criou  várias  das
               primeiras e principais músicas e danças do samba paulista. Fundamos juntas, em
               1937, a escola de samba mais antiga de São Paulo, a Lavapés, que hoje em dia
               ainda permanece em atividade.
                       Madrinha Eunice morou em Pirapora de Bom Jesus até os doze anos de idade
               e,  depois,  mudou-se  para  a  capital  paulista, São Paulo. Uma das principais lutas
               dela foi conseguir a oficialização de sua escola de samba. Foi uma das primeiras
               mulheres  a  conseguir  superar  o  machismo  e  racismo  da  época,  conseguindo  a
               aprovação da escola mesmo sendo uma mulher negra.
                       Minha amiga inspirou gerações de mulheres a buscarem pelo seu sonho de
               participar  das  apresentações  de  samba,  com  luta  e  tranquilidade.  Além  de  tudo,
               deixou  o  marido  para  continuar  com  o  seu  trabalho.  Ele  queria  que  ela  não
               participasse  mais  das  apresentações  de  samba,  mas  Eunice  não  aceitou  a
               imposição.
                       Continuando  a falar sobre mulheres corajosas, ouvi falar de Aretha Duarte,
               que  nasceu  em  1984  no  interior  de  São  Paulo.  Ela  foi  a  primeira  mulher  negra
               latina-americana  a  escalar  o  Monte  Everest,  na  Ásia.  Representou,  assim, a luta
               contra a pobreza e o racismo. Fiquei emocionada com sua história, pois nasceu em
               uma família pobre e virou catadora de lixo. Mesmo assim, conseguiu alcançar seu
               sonho: escalar a maior montanha do mundo.
                       Escalar  e sambar podem ser duas ações contra o racismo, não é mesmo?
               Por  falar  nisso,  Geraldo  Filme,  nascido  em  1927,  usou  o  samba  nesse  sentido,
               sendo um dos maiores militantes negros de São Paulo. Transformou a música em





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