Page 72 - (Re)bolar a História
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Eu, Maria Esther
Eu, Maria Ester, vou falar sobre minha vida e relatar sobre duas mulheres
que são muito importantes para mim.
Eu, Maria Esther, tenho ascendência indígena. Conquistei espaço no samba
de minha cidade, Pirapora do Bom Jesus, interior de São Paulo. Foi difícil conseguir
isso, pois enfrentei o machismo. Mas consegui mudar isso entrando para a roda de
samba. Eu sempre passava por sofrimentos, mas isso passou, quando entrei para a
roda de samba, tudo mudou.
Aprendi a dançar com os negros, sendo a primeira mulher, sem ascendência
africana, a ser aceita a participar da rodas de samba de minha cidade. Meu pai não
gostava que eu sambasse. Então, foi mais um problema. Eu saía escondida de casa
para dançar. Meu pai me batia por causa disso, mas eu não ficava abalada e
continuava a escapar pela janela para dançar. Falo para meninas e mulheres de
hoje sobre a coragem que temos que desenvolver, sobre não se calar, sobre ocupar
o seu próprio espaço.
Tive uma amiga muito importante: Madrinha Eunice. Ela era descendente de
africanos. Tem uma estátua dela no bairro da Liberdade, em São Paulo, mas poucos
paulistanos e paulistas a conhecem. Ela fundou a escola de samba Lavapés na
década de 1930. A escola foi a primeira de São Paulo.
Eu, Maria Esther, digo que a Madrinha Eunice foi muito importante para a
cultura do samba no Brasil e, por isso, merece ser homenageada. Sofreu por causa
do racismo e do machismo, mas conseguiu, mesmo em meio ao comando dos
homens, fundar uma escola de samba. Foi também ativista do movimento negro.Ela
ensinou muito para muitas mulheres que elas podem ser independentes e lutar por
seus sonhos, mesmo que o machismo crie dificuldades para isso.
Eu, Maria Esther também digo que a Aretha Duarte é outro exemplo para as
mulheres. Foi a primeira mulher negra a subir o Monte Everest. Antes disso, ela foi a
mais nova catadora de lixo reciclável e, por isso, batalhou muito para conseguir
melhorar sua vida. Começou sua jornada na periferia de São Paulo e, hoje, Aretha é
montanhista e colabora para preservar o meio ambiente.
Deixo para vocês um grande abraço. Mulheres, não desistam de seus
objetivos. Temos que nos unir para vencer o machismo. Também precisamos
colaborar para as mulheres negras vencerem o racismo. Eu, Madrinha Eunice e
Aretha podemos ser exemplos para vocês escalarem os degraus da vida e bailar em
cada um deles. Vamos (re)bolar a História.
Álvaro Marques Maluly de Carvalho e Helena Mandelli Antonucci
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