Page 68 - (Re)bolar a História
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Minha história


                       Boa tarde, meu povo!
                       Eu sou Maria Esther, nasci em 2 de maio de 1924. Sou, com muito orgulho,
               mulher e descendente de indígena.
                       Depois  de  todo  o  meu  esforço  e  dedicação,  consegui  um  grande valor no
               samba paulista. Para muitos, isso pode ser considerado um pequeno feito. Porém,
               foi  muito  difícil  conseguir  ser  considerada   uma  imperatriz  do  samba  e  ganhar
               visibilidade em Pirapora do Bom Jesus.
                       Pena  que  não  sou  tão  conhecida quanto os sambistas do sexo masculino.
               Pena que a maioria dos brasileiros não conhece meu trabalho na história da música
               do nosso país. Fiquei invisível também aos olhos da humanidade, mas hoje eu vim
               contar um grande bocado da minha história.
                       Tudo começou onde nasci: em Pirapora do Bom Jesus. E também onde vivi:
               na roda de samba de Pirapora do Bom Jesus. Então, senta que lá vem história.
                       Havia cinco casinhas na minha cidade. Eu   morava em uma delas. Quando
               eu era novinha, novinha mesmo, acho que com doze aninhos, minha mãe quis me
               mostrar as rodas de samba, que eram   algo que eu não havia conhecido ainda e
               gostei bastante. Quando vi toda aquela animação, fiquei feliz da vida. Me falaram
               como dançar, me mostraram a música, os bumbos, aquela gente todinha, aquilo era
               tipo um sonho…
                       Depois  disso,  comecei  a  fugir  para  as  rodas  de  samba.  Tinha  que  ir
               escondida porque meu pai não queria que eu participasse desses eventos. Quando
               ele me pegava pulando a janela, batia em mim. Eu sentia dores por muitos dias. Aí,
               ficava  triste,  né?   Mas  gostava  de  ir  às  rodas  de  samba  mesmo  assim.  Lá,  as
               pessoas começaram a notar que eu tinha jeito para a coisa e, apesar da tristeza, eu
               sentia felicidade ao sambar.
                       Onde  eu  morava,  virou,  com  o  passar  do  tempo,  a  Casa  do  Samba.  Lá
               dentro,  há  apresentações  para  os  turistas  e  estudantes.  É  explicado  que  cada
               música começa com a oração de Pirapora de Bom Jesus. Em seguida, é iniciada a
               música. Os visitantes podem ver fotografias e pinturas nas quais fui representada,
               pois virei a imperatriz do samba. Vai lá me ver!
                       Ser  uma  imperatriz  do  samba  significa  ser  quem  leva  toda  a  cultura  dos
               escravizados  para  frente.  Dá  um  sentimento  de  força  e  orgulho,  pois  carrego  o
               Paraíso.  Espalho  a  música  para  que  ela  possa  conquistar  o  coração  de  outras
               pessoas, assim como o samba fez comigo, graças a minha mãezinha, que foi quem
               apresentou ele para mim. Luto, com versos e melodias, em nome da liberdade. Com
               minha  música,  quero  dizer  que  todos  nós  somos  iguais  em  uma  coisa:  sermos
               diferentes.
                       Com  isso,  procuro  valorizar  as  mulheres,  que  ainda  lutam  para  ter  maior
               participação na sociedade, e eliminar os entraves do machismo. Existem mulheres
               independentes, atualmente, que me deixam muito orgulhosa. Uma delas é a Aretha




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