Page 70 - (Re)bolar a História
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Minha autobiografia


                       Eu sou Maria Esther. Nasci em 02 de maio de 1924. Hoje, vou contar minha
               história.
                       Em minha infância, na cidade de Pirapora do Bom Jesus, comecei a gostar
               de  participar  das  rodas  de  samba.  Meu  pai  não  concordava  que  eu  participasse
               dessas  festas.  Mas  eu  fugia  para  dançar  nelas.  Apanhava  dele  por isso. Porém,
               continuava saindo escondida para sambar.
                       Sou  descendente  de  indígenas  e  enfrentei  um  problema  por  causa  disso.
               Apenas homens descendentes de africanos podiam participar das rodas de samba.
               Mas eu acabei por ser aceita por tanto insistir em ser uma sambista. Eu dedico a
               minha vida a isso e tornei-me a principal referência da manifestação do interior do
               estado de São Paulo.
                       Uma  pessoa  que  muito  me  ajudou  a  realizar  meus  sonhos  foi a madrinha
               Eunice.  Agradeço  muito  a  ela  por  todas  as  oportunidades  que  me  deu  para
               participar de apresentações de samba. Em 1937, eu participe, com ela, da fundação
               da primeira escola de samba de São Paulo, a Lavaṕes.
                       Para mostrar minha felicidade por ser importante na história do samba, gosto
               de  usar  maquiagem  no  rosto.  Uso   blush  vermelho  nas  bochechas  e  minhas
               sobrancelhas são arrumadas com delineador. Nas minhas orelhas, podem ser vistos
               dois brincos grandes de ouro.
                       Com  minha  música,  procuro  mostrar  que  nós,  mulheres,  podemos  ganhar
               espaços na sociedade. Por causa disso, uma pessoa que eu me identifico muito é a
               Aretha Duarte, pois ela não desiste dos seus sonhos. Foi a primeira mulher negra a
               escalar o monte Everest, localizado na Ásia.
                       Assim  como  ela,  também  lutei  pelos  meus desejos e dançar nas rodas de
               samba para mim foi uma grande conquista. Enfrentei meu pai e o machismo. Fico
               feliz e honrada por até hoje eu ser reconhecida como a Rainha do samba de bumbo
               de Pirapora.
                       Espero  que  ela  consiga  realizar  seus  outros  sonhos.  Eu  também  ainda
               espero  realizar  os  meus.  Que  todo  mundo  possa  aproveitar  e  experimentar  um
               pouco  do  nosso  samba.  Que  nossa  cultura  interiorana  seja  valorizada  e  não
               permaneça invisível aos olhos de muitas pessoas.

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                         Heloísa Silvestre Veríssimo, Malu Domingos França, Maria Eduarda Zorzi e
                                                                                       Rafaella Galli Curi











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