Page 127 - Fios do tempo
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Lourdes Ferreira (escravizada do século XVIII)
Eu sou Lourdes Ferreira, tenho 54 anos e nasci em 1 de março de 1601.
Moro nos fundos de uma casa colonial, numa senzala bem simples, feita de
barro e madeira, com telhado de telhas de barro. O lugar é escuro e apertado, o
chão é de terra batida, e ela só tinha umas esteiras de palha para dormir. Não há
quase móveis, só uns bancos velhos em que mal cabem todos os escravizados.
Meu nome é Lourdes Ferreira. Nasci na África, perto do rio Níger, e fui
escravizada aos meus 12 anos. A viagem pelo mar foi horrível: o cheiro, o medo e a
dor estavam por toda parte, e muitos não sobreviveram. Cheguei à colônia
portuguesa sem entender a língua que falavam. Fui vendida como escravizada.
Meus donos são Fellipe Costas e Antonio da Silva. Eles são nobres da corte
portuguesa e exploram o ouro que chega de Minas para enviar a Portugal. São
rígidos e exigem que tudo seja feito exatamente como querem.
Meu dia começa antes do sol nascer. Lavo roupas, varro a casa, cozinho e
carrego água do rio. Às vezes tenho que andar pelas ruas do centro sob a vigilância
dos senhores. Durmo exausta, muitas vezes sem conseguir descansar direito, mas
sempre encontro um momento para cantar ou conversar baixinho com outras
mulheres, lembrando de casa.
Tenho pele escura, cabelos crespos que tento manter traços, e olhos atentos,
que sempre observam o que acontece ao meu redor.
Eric Jun Hata Inoue e Leonardo Fernandes Daltozo
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