Page 128 - Fios do tempo
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Paraty, 11 de setembro de 2025.
Lourdes Ferreira,
Escrevo essa carta daqui das terras símbolo da luta pela independência,
onde teu nome gravado ficou: Lourdes Ferreira. Um local onde as crianças correm
livres com os pés. De um local onde você sonhou a pisar livremente
Sou uma mulher do agora, mas, em minha pele, ainda guardo sofrimentos e
dores. Teus passos sangraram pelos caminhos por onde, hoje, colhemos
esperança. Suas gotas de suor acabaram virando sementes que brotaram aqui em
um local que o tambor resiste, ou onde o jongo continua a viver, onde a mão de
cada um de vocês foram necessárias para a construção da liberdade dos tempos
atuais.
Eu caminho com minha coluna ereta, mas escuto o som dos estalos que te
silenciaram. Eles mudaram de forma, mas continuam tentando nos silenciar. E por
esses motivos dançamos, plantamos e cantamos para não esquecer a herança que
nos deixaram.
Mas escrevo isso a ti para dizer que não somos mais propriedade de
ninguém. Graças a atitude de vocês hoje o sol raia em cima de cada um de nós do
Quilombo do Campinho E apenas gostaria de agradecer a ti por deixar seu legado
para nós.
Com respeito e amor me despeço a senhora,
Flávia Costas
Eric Jun Hata Inoue e Leonardo Fernandes Daltozo
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