Page 51 - (Re)bolar a História
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A rainha do Samba Paulista
Olá! Eu sou Maria Esther de Camargo Lara. Muitos me conhecem como a
“Rainha do Samba “ ou “ Dona Maria “. Nasci na cidade de Pirapora do Bom Jesus
em 2 de maio de 1924. Eu amo muito esse lugar, pois foi lá e, com minha ajuda,
que foi originado o samba paulista.
Sou uma mulher de ascendência indigena. Então, foi difícil entrar para o
mundo da música, pois ela era dominada por homens. Também sofri preconceito
pela minha origem.
Desde pequenininha, eu sempre gostei muito de brincar e falar bastante. Era
muito criativa. Mas, na época, a condição financeira da minha família não era boa,
então não conseguia ter recursos para desenvolver minhas habilidades, pois minha
família era muito pobre, e morava em uma casa muito pequena e estreita.
Quando era criança, vi apresentações de samba e, de imediato, quis
participar delas. Mas, na época, as mulheres não podiam fazer quase nada, e não
tinham seus direitos iguais hoje em dia. Os homens eram os mais importantes na
sociedade. Então, meu pai não deixava eu frequentar as rodas de samba, pois isso
faria com que meu corpo fosse exibido e os homens iriam vê-lo. Ficava
inconformada com o pensamento machista do meu pai. Eu adorava dançar. Então,
eu saía escondida de casa e ia rebolar.
Um tempo depois, comecei a frequentar uma escola de samba e a pegar o
jeito de como ser dançarina. Todos de lá me acolheram muito bem. Os membros
dessa escola fizeram um quartinho bem pequeno, com apenas uma janela, para
mim. Eu sou muito grata a eles até hoje, pois me apoiaram nos momentos mais
difíceis.
Para você entender melhor minha vida quando jovem, quero falar muito sobre
a diferença que tem da minha época para os dias de hoje. Os negros, mulheres e
indígenas eram ridicularizados e não tinham direito de fazer quase nada. Hoje, eles
conquistaram direitos, mas ainda temos que fazer por eles.
Uma mulher que eu sou muito grata para a vida toda se chama Eunice, mas
conhecida como Madrinha Eunice. Nasceu em 14 de outubro de 1909. Conheci
essa incrível mulher em uma roda de samba. Tornou-se minha amiga e ajudou-me
em muitas questões pessoais. Estava sempre junto comigo nos momentos ruins. Foi
uma das pessoas que também ajudou a expandir o samba paulista. Sou muito grata
a ela.
A Eunice também veio de uma família negra, então ela foi muito importante
para minha vida, pois entendia os problemas que enfrentei por ser descendente de
indígenas. É uma mulher muito independente, então nunca abaixa a cabeça para
ninguém.
Também foi a primeira mulher a participar de uma comissão de frente nas
festas de Carnaval, agregando outras mulheres para isso. Era uma vitória contra o
machismo. Em 1937, ela decidiu criar uma escola de samba, chamada Lavapés. Eu
sou a sócia dela, pois nós duas somos muito amigas.
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