Page 50 - (Re)bolar a História
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Maria Esther, a Rainha do samba

                       Olá,  me  chamo  Maria  Esther  e  sou  uma  amante  do  samba  paulista  e  irei
               compartilhar com vocês um pouco de minha história. Nasci em 1924 no interior de
               São Paulo.
                       Sempre gostei do samba, mas meu pai não gostava que eu participasse dos
               encontros dos músicos e dançarinos desse estilo musical. À noite, saía escondida
               de casa para participar deles. Mas, papai ia até lá e me levava de volta para casa.
               Eu ficava tão triste…
                       Durante  a  minha  infância,  lembro  de  sair  correndo  atrás  dos mineiros que
               vinham  sambar  em  Pirapora  do  Bom Jesus. Eles acabaram por influenciar nosso
               sotaque,  nossa  fala  e  nossos  costumes.  Queriam  fazer  um  intercâmbio  com  os
               sambistas  do  interior  de  São  Paulo.  Uma  mistura  de  coisas  boas.  Quanta
               diversidade!
                       Minha vida era muito simples, o samba paulista era a minha vida e significava
               tudo para mim, era minha alegria. Minha casa era bem pequena e bagunçada com
               fantasias,  que  eu  espalhava  em  cima  da  cama.  As  roupas  eram  brilhantes  com
               verde  e  branco  e,  com  elas,  eu  participava  dos  desfiles  de  samba.  Lá em casa,
               havia só uma cama de madeira quebrada. Não havia sofá e televisão. Uma mesa de
               jantar bem pequena enfeitava a cozinha. A  gente pegava água do poço.
                       Eu já falei para vocês sobre minha amiga? Ela batizou tanta gente que ela é
               madrinha de quase todo mundo. Em um dia chuvoso,a Madrinha Eunice disse para
               o seu marido que preferia o samba mais do que ele. Seu marido ficou bem triste,
               pois gostava muito dela.
                       A  Madrinha  Eunice  foi  uma  das  primeiras  mulheres  negras  do  samba
               paulista. Foi a fundadora da Sociedade Recreativa Beneficente Esportiva da Escola
               de Samba Lavapés Pirata Negro, a mais antiga da capital paulista e que ainda está
               em  atividade.  Via  a  Madrinha  Eunice  como  uma  heroína.  Percebi  que  ela  era  a
               minha inspiração para  que eu conseguisse alcançar novas alturas como sambista.
                       Além  de  Eunice,  tem  outra  mulher  que  admiro:  a  Aretha Duarte, que foi a
               primeira mulher latino-americana negra a escalar o monte Everest, que fica na Ásia.
               Gosto de pensar nela quando tenho que ser corajosa para enfrentar as dificuldades
               em meu caminho.
                       Nós  três  somos  mulheres  que  sofreram  para  ter  importância  naquilo  que
               desejávamos  para  nossa  vida.  Enfrentamos  machismo  e  a  Aretha  e  a  Eunice
               sofreram com o racismo.

                                  Enrico Catherino, Benício Luís  Godoy e Henrique de Araujo Anisio








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