Page 54 - (Re)bolar a História
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Muito prazer, sou Maria Esther

                       Muito prazer, meu nome é Maria Esther de Camargo Lara e nasci no dia 2 de
               maio de 1924,   sou conhecida como Dona Maria Esther, fui uma figura importante
               no samba rural de Pirapora do Bom Jesus. Nesse meu texto, você vai saber como
               tudo isso aconteceu.

                       Quando tinha 12 anos, comecei a frequentar as rodas de samba em Pirapora
               do Bom Jesus, onde eu morava. Essas apresentações tiveram origem nas danças e
               canções dos escravizados.


                       Meu  pai  não  me deixava frequentar esses eventos e me castigava quando
               descobria  que  eu  saía  escondida  para  participar  deles.  Mesmo  assim,  nada
               conseguia  me  impedir  de  dançar  e  cantar.  O  som  da música e dos instrumentos
               faziam-me  sentir  muito  alegre,  mais  leve.  Preferia  sambar  do  que  ir  nas  festas
               religiosas  do  Bom  Jesus  de  Pirapora.  Dediquei  minha  vida  inteira  à  música  e  à
               dança,  enfrentando,  para  isso,  os  problemas  causados  pelo machismo, pois nós,
               mulheres, éramos excluídas de participar das rodas de samba.

                       Pirapora  do  Bom  Jesus  é  uma  cidade  paulista  conhecida  por  seu  samba
               marcante,  conhecido  como  samba de bumbo ou samba rural paulista. Surgiu nas
               fazendas  de  café  durante  o  século  XIX,  sendo  criado  pelos  escravizados.
               Atualmente,  a  cidade  é  considerada  o  berço  do  samba  paulista  e  a  tradição  é
               mantida  por  grupos  tradicionais  e  celebrada  em  eventos  como  o  aniversário  da
               cidade, que é comemorado na Casa do Samba.


                       Aqui em Pirapora, a Casa do Samba é mais que um lugar qualquer, era um
               espaço onde a tradição acolhia as pessoas, onde o batuque do bumbo marcava o
               coração da comunidade. A gente se reunia para celebrar a vida, para ouvir o som
               profundo do tambor, para aprender com quem já conhecia cada nota da música que
               vem lá dos escravizados , que vem das fazendas de café do interior de São Paulo.

                          Mas o que realmente me levou a virar uma figura importante para o samba é
               o que vem a seguir.


                        Participei da primeira escola de samba de São Paulo, em 1937 , a Lavapés, ao
               lado de Madrinha Eunice. Minha amiga Eunice fez muitas coisas para defender suas
               origens e, por isso, foi presenteada com uma estátua sua no bairro da Liberdade.
               Mas isso não foi o suficiente para que ela fosse conhecida em todo o Brasil. Poucas
               pessoas conhecem sua história e sua luta.


                       Eunice  lutou  contra  o  preconceito  racial  e  falou  a  favor  dos  direitos  das
               mulheres.  Assim  como  Madrinha  Eunice,  eu  penso  que  as   mulheres  sempre





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