Page 107 - Fios do tempo
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Nala Nkosi (escravizada do século XVIII)
Meu nome é Nala Nkosi, nasci em trinta de agosto de 1694 e, hoje em dia, no
século XVIII, possuo vinte anos de idade.
Vivo no núcleo urbano Paraty, sou uma negra escravizada, e moro no
casarão dos meus senhores. Trabalho em serviços domésticos e, quando não estou
fazendo isso, tenho que ficar na senzala, junto com muitos outros escravizados. Os
donos do casarão, meus senhores, João Castro e Maria Castro, também me
obrigam a plantar cana-de-açúcar.
Sou muito magra por falta de uma boa alimentação, pois sempre tenho que
comer restos de comida deixados pelos meus donos, tenho pele negra e cabelos
crespos. A minha vestimenta é simples, com panos brancos rasgados, tenho muitos
traumas psicológicos, pois fui trazida para Paraty, à força por representantes do rei
português. No navio que cruzou o oceano, havia mau cheiro, por falta de cuidados
com a higiene. A comida era escassa e, por isso, muitos morriam.
Quando cheguei em Paraty, fui obrigada a aprender a cultuar uma religião
que não era a minha, o catolicismo. Além disso, fui obrigada a trabalhar
incansavelmente todos os dias nos engenhos de cana-de-açúcar dos meus
senhores, e, a partir desse momento, a minha vida, que antes era feliz lá na África,
virou de cabeça para baixo e fui forçada a fazer coisas que não queria. Tudo isso
sem qualquer remuneração.
Cauã Roperto Vaz e Cauê F. Fontão Abussafi
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