Page 112 - Fios do tempo
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Paraty, 13 de fevereiro de 2025.

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                       Escrevo esta carta para que você saiba que toda a sua luta e resistência teve
               grandes repercussões.
                       Sinto  sua  dor.  Todo  dia,  logo  ao   acordar,   ter  que  trabalhar em lavouras,
               como escrava daqueles que a tiraram forçadamente e sem pena ou empatia de sua
               terra  natal.  Lá,  você   cresceu  e  fez  sua  vida,   mas  foi  comercializada  para  os
               portugueses  e  levada  à  força  para  a  colônia  de  Portugal,  por  meio  de  um navio
               negreiro em condições insalubres e sem piedade.
                       Ao  chegar  na  nova  terra, você foi mantida em cativeiro, dormindo em uma
               senzala,  sem  esperança  de  qualquer  liberdade.  A  ideia  de  que  você  tinha  que
               trabalhar  sem  descanso  desde  o  nascer  do  dia  até  o  pôr  do  sol  de  Paraty  é
               insuportável em minha cabeça.
                       Mas, hoje em dia, por meio de muita luta, a escravidao foi abolida no final do
               século XIX.
                       Minha  avó  era  filha  da  irmã  mais  velha  das  três  irmãs  que  fundaram  o
               Quilombo  do  Campinho  em   Paraty.  Então,  minha  mãe  nasceu  e  foi  criada  no
               quilombo.
                       Atualmente,  vivo  nesse  mesmo  quilombo  em  Paraty,  moro  em  uma  casa
               confortável para duas pessoas. Hoje, ainda praticamos o jongo, que é dançado em
               uma  roda  ao  som  de  tambores.  Nesse  momento,  sinto  minha  ancestralidade,  o
               vento em meus cabelos, tudo que eles passaram para que eu esteja aqui.

                                                                                        Atenciosamente,
                                                                                    Dandara Esperança.

                                              Bruno Borovik Copiano, Maria Beatriz Ferreira Sanches,
                           Anna Beatriz D. Nogueira, Laís Storto de Toledo e Gabriela Penna Barrios


























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