Page 117 - Fios do tempo
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Malaika Mwangi (escravizada africana)
Meu nome é Malaika Mwangi, sou uma escravizada do século XVIII, perdi-me
de meus pais quando era jovem, minha mãe morreu devido aos abusos de seu
senhor, não sei em que fazenda meu pai está, não sei nem se ele está vivo, sonho
em encontrá-lo.
Os portugueses nos escravizaram e, nas embarcações que nos trouxeram
para a colônia deles, pessoas morreram de fome e doença, e assim cheguei a
Paraty e aqui ainda resido. Trabalho como escravizada no transporte de mineração,
ajudando meu senhor no seu cotidiano, no que se refere aos afazeres domésticos.
Meu cotidiano é sempre igual, trabalhando pesado sem possuir uma remuneração.
Já tentei fugir algumas vezes, mas fui aprisionada em todas essas ocasiões.
Acordo todo dia às cinco horas da manhã e minha única refeição é às
quatorze horas. Ontem, por exemplo, comi os restos de comida do meu senhor. Vou
dormir por volta das onze horas da noite.
Tenho 1,60 metros, cabelo curto e crespo, sou magra. Vim de uma tribo da
Angola e morávamos perto do rio Cuanza. A viagem até a colônia de Portugal, como
já disse, foi sofrida e complicada, passamos fome e vários de meus familiares
morreram por enfermidades.
Todos os dias, uso roupas velhas e rasgadas que meu senhor nos deu,
comemos todos os dias os restos dos alimentos da família de meu senhor. Me sinto
triste ao pensar que tive que abandonar minhas terras para viver como escrava
nesta colônia, passando por situações miseráveis e forçadas, quando, por exemplo,
tive que abandonar minha religião e adotar o catolicismo.
Luca de Oliveira C. Delmonte, Bernardo M. Freire,
Davi A. Faleiro e Lucca R. Pagani
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