Page 114 - Fios do tempo
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Anastácia Ferreira (escravizada do século XVIII)
Sou Anastácia e trabalho, de forma forçada, para um rico nobre português.
Durmo, junto com outros escravizados, no porão da casa, um lugar úmido e escuro,
conhecido como senzala.
Meu dono nunca deixou ela sair da fazenda pois tinha que trabalhar o dia
inteiro. Passei minha vida em Paraty.
Vivo com minha mãe, Luiza Ferreira, de 47 anos, e com meu pai, Francisco,
de 49 anos, e meus quatro irmãos, sendo Anastácia a caçula.
Trabalhei desde a infância e, nos poucos momentos livres, gostava de brincar
com bonecas de pano que minha mãe confeccionava.
Aparento ser otimista e alegre, mas por dentro, sou triste pela minha situação
de vida. Tenho ligação muito forte com a religiosidade de matriz africana e a tradição
do lugar de origem de seus pais. Sempre aprendi muito sobre a cultura africana,
principalmente porque meu pai foi um educador sobre a matriz africana na África
antes de ser escravizado.
Não gosto do lugar onde moro, pois é um ambiente em que as pessoas
negras são muito desvalorizadas. Não consegue pensar em soluções para melhorar
isso.
Bruno Martinelli Galante, Victor Quadrante Fernandes,
Gustavo W. F. Pimentel e Luigi E. M. Venturacci
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