Page 121 - Fios do tempo
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Paraty, Rio de Janeiro, 19 de abril de 2017.
Querida Tereza ,
Querida amiga, vi vocẽ ao pé do rio vendendo frutas e grãos. Usava roupas
simples, sujas e rasgadas. Seu rosto expressava profunda tristeza e indignação
perante as injustiças ocorridas no momento. Mas ainda assim esboçava um
sentimento de esperança e determinação.
Sei que seu tempo foi difícil, cheio de lutas, cheio de silêncio forçado, de
injustiças que doem. Hoje, muitas coisas mudaram, podemos nos expressar de uma
forma mais livre, mas mesmo assim nem tudo ficou para trás.
Ainda existem muitas pessoas que pensam da mesma forma preconceituosa
e discriminando as pessoas pela cor de pele, disfarçado de piadas, músicas e
outras coisas, que, se não pararmos para pensar com um olhar diferente, não
conseguimos identificar. E isso machuca, como deve ter machucado você e a todos
que sofreram no passado e agora. Mesmo depois de tantos anos de luta, isso ainda
persiste.
Onde eu moro, no Quilombo do Campinho, a gente ainda tenta manter as
tradições vivas, como danças, comidas, rodas de histórias, de mãos dadas com
orgulho de nossas raízes.
Eu sou parte dessa história junto com você e todos que traçaram ela desde
sua época.
Com amor,
Luiza
Beatriz Radonsky Dias, Dália Madi Rezende de Freitas,
Nathalia Rios Nunes e Rafaela Melissa Medeiro Agostini.
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