Page 108 - Fios do tempo
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Paraty, 13 de setembro de 2025.

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                       Quando  a  vi  levando  chicotadas  e  apanhando  dentro  daquela  senzala por
               não ter concluído seu trabalho incansável nos engenhos de cana-de-açúcar, o meu
               coração, por pouco, não se partiu ao meio.
                       Estou escrevendo esta carta, pois meu tempo, no passado, estava prestes a
               acabar  e  queria  saber  um pouco mais da sua história, até porque trouxe notícias
               para você conhecer um pouco mais do futuro.
                       Moro  no  Quilombo  do  Campinho,  em  Paraty. Vivo com meus dois filhos, o
               mais  velho  de  dezoito  anos,  o  Akin  Mandela,  e  o  menor  de  quinze  anos,  Malik
               Mandela.
                       O  Quilombo  do  Campinho  é  liderado  por  mulheres  negras  e  não  há  mais
               escravidão. Conto isso para deixar você feliz, pois as mulheres negras, agora, têm
               mais espaço na sociedade para representar nossa identidade feminina e africana.
               Nós,  juntas,  preparamos  uma  deliciosa  feijoada.  Gostaria  muito  que  um  dia
               pudéssemos saborear esse delicioso prato na companhia uma da outra.
                       Mas  nem  tudo  é  felicidade.  As  mulheres  sofrem  muita  desigualdade  em
               relação  aos  homens, principalmente as negras, pois sofrem racismo e machismo.
               Elas  têm  mais  dificuldades  de  achar  empregos.  Muitas  moram  nas  partes  mais
               pobres da cidade.
                       Mas vamos falar de assuntos alegres. As festas no quilombo são tradicionais
               e  trazem  a  cultura  dos  nossos  ancestrais  africanos.  Temos  festas  com  muitas
               danças.
                       Minha amiga, vou ficando por aqui, um grande abraço no seu coração, e que
               você consiga sair dessa escravidão, que seja libertada e tenha uma vida livre e feliz.

                                                                                                      Zuri

                                                         Cauã Roperto Vaz e Cauê F. Fontão Abussafi





















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