Page 8 - Fios do tempo
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notícias e reportagens sobre as mulheres negras no Brasil. Também lemos partes
               do livro “O negro do Brasil de hoje”, de Kabengele Munanga e Nilma Lino Gomes.
                        Para a personagem 2, tivemos que realizar outras pesquisas e, a partir daí,
               conseguimos base para montar a vida de uma negra escravizada no Brasil colonial,
               em Paraty, no século XVIII.
                       E  o  trabalho  não  foi  encerrado  aí.  Depois,  houve  a  principal  etapa.  A
               Personagem 1 retorna ao presente e, tão inconformada em nunca mais poder rever
               sua  amiga,  escreve-lhe  uma  bela  carta,  narrando  sobre  si  mesma  e  seu  tempo,
               além  de  descrever  tudo  o que viu quando esteve no passado. Demonstrou como
               conhecia bem a sua irmã distante e os vínculos históricos que as uniam, os fios do
               tempo.  Ficou  com  a  carta  sempre  perto  dela,  pois,  caso  a  fenda  se  abrisse
               novamente,  ela  poderia  lhe  entregar  o  que  escreveu.  Mas  como  conseguir?
               Ninguém a enxergava.
                       Eis  que,  novamente,  a  abertura  para  outro  tempo  aparece  em  sua  frente.
               Agarra a carta e cruza as diferentes dimensões. Logo se vê correndo pelas ruas de
               Paraty  colonial.  Ninguém  a  enxergava.  Virava  esquinas.  Tropeça  pelo  piso
               pé-de-moleque.  Avista,  de  repente,  sua  amiga.  Uma  brisa  gelada  batia  em  seus
               cabelos e o medo lhe assombrou. Como vou entregar a carta? Ela não me vê, não
               posso  tocar  ninguém.  Quando  já  havia  desistido  devido  ao  andar  acelerado  da
               escravizada, acostumada a trabalhar muito, sentou e segurou a cabeça nas mãos,
               com os cotovelos fincados nos joelhos.
                       Passados alguns instantes, percebeu a sombra de alguém ao seu redor. Era
               ela: seus olhos brilhantes fitaram-na com curiosidade. Finalmente a irmã ancestral a
               vislumbrou.  Mas,  a  fenda  para  retornar  abriu-se.  Entreolharam-se.  As  mãos
               tocaram-se  quando  a  carta  foi  entregue.  E  a  viagem  de  volta  ao  presente  as
               separou  novamente.  A  carta  de  comunhão  ficou  no  passado  e  os  fios  do tempo
               ganharam luminosidade. Uma carta sobre o antes, uma carta sobre o agora…

                                                                 Aluna Isabella Ganem Fellinger (7º B)
                                                                         Professora Shirley dos Santos

                                                          * * *

                       Mas nossa introdução ainda não acabou. Vamos fechá-la com o lindo poema
               escrito pela aluna Mariana Fiorelli Barbosa (8º D), que se ofereceu para escrever um
               poema ao conhecer a proposta do trabalho. Agradecemos a ela a sensibilidade em
               captar a essência do projeto e transformá-la em versos.

               Fios do tempo

               Viajou no tempo
               Só pra entender todo esse sofrimento,
               Todo esse sentimento
               Que na pele sentiu o povo negro.


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