Page 30 - (Re)bolar a História
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Sou Maria Esther
Olá, me chamo Maria Esther de Camargo Lara. Sou uma mulher idosa, tenho
mais de noventa anos. Nasci em Pirapora do Bom Jesus em 1924, e sou
considerada a embaixatriz do samba paulista.
Fugia de casa para ir às rodas de samba e eu era a única mulher branca,
porém, com ascendência indígena, que podia participar das rodas de samba.
Continuo morando em Pirapora do Bom Jesus e tenho filhos.
Madrinha Eunice, ao meu lado, participou da fundação da primeira escola de
samba, a Lavapés, em 1937. Ela era descendente de africanos e, mesmo em meio
ao racismo, conseguiu esse feito. Não foi fácil para nós, principalmente por sermos
mulheres. Depois disso, viramos muito amigas, a Lavapés virou o símbolo do
carnaval paulista.
Madrinha Eunice me contou que seus pais eram ex-escravizados. A minha
opinião sobre os negros na escravidão era de grande tristeza, pois tinham muitas
pessoas negras que estavam sofrendo, e eu pensava, como seria se estivesse no
lugar dessa gente? Vejo as consequências e desgraças que a escravidão trouxe
para todos, mas principalmente para os negros que sofreram muito. Ao longo do
caminho, conheci muitos ex-escravizados, que moravam na vizinhança. Hoje, quase
ninguém se lembra de quem eu sou, mas exerci um papel muito importante na
história do Samba Paulista. Eu costumava me vestir com roupas com cores fortes,
que chamavam muita atenção, usava blush vermelho nas bochechas e usava
delineador nas sobrancelhas muito alegre e animada.
Quando ia para rodas de samba, sentia a vibração das pessoas, amava ver
pessoas que gostavam do samba tanto quanto eu, os tambores, o pandeiro e as
vozes. A casa do samba tinha cores tão vibrantes quanto o meu vestido. O lugar
tinha um cheiro confortável. Tudo era lindo!
Uma pessoa que eu admiro muito é a Aretha Duarte, que, assim como eu, fez
um feito histórico para as mulheres. Ela foi a primeira mulher negra e latina a subir o
Monte Everest, que é a maior montanha do mundo. Aretha passou por dificuldades,
mas, mesmo assim, conseguiu superá-las. Ela juntou quatrocentos mil reais durante
treze meses para conseguir viajar ao Monte Everest. Juntou cento e quarenta mil
reais, vendendo cento e trinta toneladas de lixo, e sessenta mil doados pelo The
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