Page 34 - (Re)bolar a História
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Maria Esther:  a minha história



                       Meu nome é Maria Esther, e você já deve saber disso. Bom, querem que eu
               diga sobre minha história? Então, vou contar a vocês.

                       Nasci no dia 2 de maio de 1924 na cidade de Pirapora do Bom Jesus, interior
               do estado de São Paulo. Uma curiosidade é que sou descendente de indígena e o

               meu nome nessa cultura é Amapaopolepiepa. Quando eu era criança, via homens

               dançando  e  cantando  nas  rodas  de  samba  e  comecei  a  ficar  interessada  nisso.
               Descobri  que  aquele  festejo  todo  era  samba  de  Bumbo.  Escutava todos aqueles

               sons  juntos  que  me  davam  alegria,  meu  corpo  tinha  vontade  de  dançar  quando
               ouvia aquilo e nada mais importava, só não queria ficar parada no lugar enquanto o

               som ressoava e não poder ir aproveitar com os outros.

                       Até  que  não  me  aguentei,  comecei  a  frequentar  as  rodas  de  Samba  de
               Bumbo. Saía pela janela do meu quarto para aproveitar as danças e cantorias, meu

               pai brigava comigo quando eu voltava, às vezes, até me batia, porque não queria
               que eu frequentasse os centros de sambas.

                       Na  época,  só  podiam  entrar  homens  que  eram  negros  nesses  eventos.
               Mulheres, principalmente brancas, não eram aceitas e respeitadas no local. Quando

               entrei  pela  primeira  vez no lugar, um homem negro bem alto, com um tambor na

               mão, disse: “Por quê você está aqui?! Você é mulher, e mulheres não são aceitas
               aqui”. No samba de roda, homens brancos, mulheres e crianças não podiam entrar.

               Eu respondi a ele que admirava muito suas músicas e ficava horas, horas e horas
               olhando  pela  minha  janela  mas,  mesmo  assim,  ele  não  deixou  eu  entrar,  e  me

               mandou ir embora de lá. Lágrimas rolaram pelo meu rosto.
                       E quando eu estava quase saindo, ouvi uma voz grossa chamando pelo meu

               nome. Perguntei à voz o que queria, e ela me respondeu; “Eu sei o que você quer.

               Se é isso é o que você quer, então mostre a eles o seu amor pelo samba”.
                       Então, resolvi fazer o que a voz mandou. Voltei ao local e, de repente, avistei

               um grande tambor ali. Resolvi pegá-lo e comecei a tocar e cantar. Fui entrando aos

               poucos  e  todos  de  lá  estavam quietos, apenas me observando. Fiquei um pouco
               envergonhada  no  início,  mas,  depois  de  um  tempo,  percebi  que  todos  do  lugar

               começaram a cantar e a dançar comigo. Claro, o homem alto não estava nem um
               pouco feliz com isso, mas, nada para mim importava, o que eu queria mesmo era

               aproveitar aquele momento que eu tanto esperava.



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