Page 37 - (Re)bolar a História
P. 37

Eu, Maria Esther

                       Bom dia, eu sou Maria Esther e hoje vim contar minha história.

                       Nasci na cidade de Pirapora do Bom Jesus, em 1905, lá, morava com meus
               pais, e tinha ascendência indígena por parte de minha mãe, ela era gentil. Meu pai

               era muito rigoroso comigo, pois ele não me deixava sair para as rodas de samba,

               mas eu sempre conseguia ir. Eu adorava as rodas de samba, e se saísse, quando
               voltava para casa, ele me batia.

                       Mas,  eu  sempre  achava  um  jeito  de  fugir  de  casa  e  só  voltava  de
               manhãzinha. Geralmente, saía pela janela de casa e subia em uma árvore para me

               esconder  do  meu pai, e só saía da árvore quando o meu pai ia embora. Quando

               criança,  não  entendia o porquê de as mulheres não poderem ir para as rodas de
               samba, achava isso muito estranho, as mulheres não são um objeto, elas são muito

               independentes e capazes como qualquer homem, eu pensava. Hoje em dia, sei que
               isso acontece porque estamos em uma sociedade patriarcal…

                       Nas  rodas  de  samba,  era  praticada  a  dança  de  samba  de  bumbo,  onde
               diversas pessoas se reuniam em roda e dançavam ao som dos instrumentos. Isso

               era de origem africana, então a maioria das pessoas que iam dançar eram negros.

                       Quando  eu  era  criança,  eu  achava  injusto  que  as  mulheres  não  podiam
               dançar  nas  rodas  de  samba,  pois,  as  mulheres  eram  muito  silenciadas  naquela

               época e não tinham tanto reconhecimento como homens. Mas, eu sei que elas são
               um  ser  humano  como  os  homens,  e  não  um  objeto.  E  deveriam  ser  mais

               reconhecidas pela sociedade.
                       Com o  passar dos anos, minha paixão pelo samba foi crescendo, e eu sempre

               usava  minhas  roupas  coloridas  e  meu  batom,  minha  família  não  gostava que eu

               ainda fosse as rodas de samba, então saí de casa. Comecei a participar de grupos
               de roda de samba, fui para São Paulo, e lá conheci Madrinha Eunice, ela foi uma

               amiga  que  fiz  quando  fui  a  São  Paulo,  ela  é  a  fundadora  da  escola  de  samba

               Lavapés, uma das escolas mais antigas de São Paulo. Como eu,  Madrinha Eunice
               adorava  o  samba,  então,  quando  seu  marido  Chico  Pinga  mandou  ela  escolher

               entre ele e o samba, ela escolheu o samba.
                       A ideia de Madrinha Eunice criar a escola de samba surgiu a partir de uma

               visita realizada por ela à Praça Onze, no Rio de Janeiro. Um fato interessante é que
               lá  na  Praça  da  Liberdade,  em  São  Paulo,  construíram  uma  estátua  para  ela.



                                                                                                       37
   32   33   34   35   36   37   38   39   40   41   42