Page 40 - (Re)bolar a História
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Muito além do samba: a minha história

                       Olá, me chamo Maria Esther de Camargo Lara, tenho 91 anos, sou de 1924 e

               moro em Pirapora do Bom Jesus. Vou contar a minha história.

                         Nasci  e  cresci  em  Pirapora  do  Bom  Jesus, interior de São Paulo. Desde
               pequena  era  muito  sapeca,  adorava  brincar  pelas  ruas  de  Pirapora e   ir para as

               rodas de samba, porém meu pai não gostava. Por esse motivo, tinha que dar uma
               escapada  de  casa  para  poder  me  divertir,  mas  nem  sempre  dava certo. Quando

               meu pai descobria,  ia atrás de mim com uma vara de marmelo e me batia. Eu tinha

               medo disso porque vara de marmelo era como, um ramo que, antigamente, usavam
               para  bater  em  escravos  como  forma  de  castigo.  Nessa época, o preconceito era

               normalizado,  estava dentro da lei.
                          Mas,  infelizmente,  embora  hoje  seja  ilegal,   o  preconceito  ainda  existe.

               Mulheres  e  negros  são  os  que  mais  sofrem,  isso  é  uma grande injustiça, alguns

               exemplos  desses  preconceitos  são  o  machismo  e  o  racismo.  E  isso  também
               acontecia  nas rodas de samba, porque crianças, mulheres e brancos não podiam

               participar das rodas.
                        Comecei nas rodas quando era criança, e você deve estar se perguntando,

               como  se  era  proibido  crianças.  Eu  já  era  conhecida  pelas  pessoas  da  roda  de
               samba,  e  muitos  gostavam  de  mim,  então  virei  uma exceção assim como outras

               pessoas.

                       Fui  crescendo  e  gostando  cada  vez  mais  de  cantar  e  dançar  aquelas
               músicas. Eu sentia que aquele tipo de música me movia, mesmo no início, quando

               não sabia dançar, eu me remexia igual as mulheres da roda haviam me ensinado.
               Meu  gosto  também  foi  mudando  com  o  tempo,  pois  já  não  era  uma  criança,  e

               comecei a ver algumas mulheres com maquiagem, e quis fazer também. Eu usava

               uma maquiagem bem forte com sobrancelhas bem marcadas feitas por delineado e
               com blush bem vermelho, eu achava que era uma maneira de me expressar e me

               sentir bem comigo mesma, também amava usar acessórios como brincos, anéis e
               colares.

                        Tinha uma mulher na roda chamada Madrinha Eunice, ela não gostava muito

               de se maquiar igual. Mas mesmo assim eu a  achava  muito linda. Eu sabia que na
               roda de samba eu estaria protegida pois ela sempre estava lá para cuidar de mim.





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