Page 43 - (Re)bolar a História
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Minha vida
Oi!! Meu nome é Maria Esther de Camargo Lara, eu sou de 1924. Nasci em
uma pequena cidade do interior de São Paulo, chamada Pirapora do Bom Jesus,
eu a amo do fundo do meu coração. Ela foi criada em torno de 1890, antes disso,
era um pequeno bairro de Santana de Parnaíba. A Pirapora tem um rio lindo que
passa no meio da cidade. Por fazer seu curso ao contrário do mar, é por esse
motivo que ele recebeu o nome de rio Teimoso.
Minha história começou quando eu era pequena, em Pirapora, nas rodas de
samba que na época eram destinadas apenas para homens negros. Essas rodas
surgiram quando os escravizados eram levados para Pirapora pelos seus “senhores
vamos dizer assim, para a festa do Senhor Bom Jesus e ficavam em barracões e foi
lá que os escravizados criaram o samba de roda, conhecido também como Samba
de Bumbo, que eu protejo com minha vida essa tradição,que nada mais é do que
várias pessoas em uma roda cantando canções e batucando.
Eu gostava muito de samba e da energia que essas noites transmitiam. Eu
gostava tanto dessas noites de barulho e de ritmos, que me mudei para São Paulo,
por conta da minha paixão pelo samba, eu me senti expulsa de casa por meu pai
após várias discussões. Eu saí de casa e fui para São Paulo, e lá me dediquei
totalmente ao samba de roda. Em São Paulo aconteceu uma das melhores coisas
da minha vida: Eu conheci a Madrinha Eunice.
A Madrinha Eunice foi como uma mãe para mim, pois quando eu cheguei
em São Paulo não foi fácil com ela, imagina sem. Tanto que nós juntas formamos
uma bela dupla, pois foi a madrinha Eunice que criou a primeira escola de samba
paulista: A Lavapés. A Lavapés foi criada em 1937, após a Madrinha Eunice ir para
o Rio de Janeiro onde viu a escola de samba São Carlos, também branca e
vermelha, e daí surgiu essa ideia espetacular.
O samba assim como a capoeira foi uma das formas dos escravizados se
reunirem e fazerem uma atividade mais livre e alegre, por mais que a capoeira seja
uma luta, também é uma dança, igual ao samba de roda.
Infelizmente Madrinha Eunice nos deixou em abril de 1995, isso foi um abalo
para todos os que a conheciam, e, depois disso, a cidade ficou até mais sem cor e
cada vez mais sentiam sua falta. Nós sofremos preconceito, mas lutamos por nosso
sonho. Desde sempre as mulheres e os negros sofrem preconceito e ainda são,
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