Page 35 - (Re)bolar a História
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Quando a música acabou, eu estava com um imenso sorriso no rosto, o dono
da roda queria me tirar de lá, mas os outros gostaram tanto de mim que resolveram
deixar eu sambar com eles. “Fique conosco, Maria, fique!”
O tempo passou e, aos poucos, fui sendo aceita. Depois de um tempo,
comecei a me enturmar e a frequentar mais as rodas de samba e acabei fazendo
mais amizades e minha entrada não foi mais proibida.
Comecei gostar tanto do samba de roda que acabei levando isso como
carreira em minha vida. Fui em várias apresentações, cantei, escrevi músicas e
dancei.
Ah, agora é hora de falar de uma grande amiga, Madrinha Eunice, uma
pessoa muito importante para mim, pois foi a inspiração da minha vida. Seu nome
verdadeiro é Deolinda Madre, sendo conhecida como Madrinha Eunice por batizar
várias crianças. Nascida em 1909, ela se mudou para São Paulo ainda quando era
criança. Seus pais eram ex-escravizados. Quantas histórias ela conheceu sobre a
música entre os cativos. Lembro-me de suas narrativas sobre a sensação de
liberdade que os negros obtinham ao dançarem e cantarem conforme suas
tradições.
Em 1937, minha amiga fundou a Escola de Samba Lavapés, que é a mais
antiga de São Paulo e está ativa até os dias de hoje. Ela foi a primeira mulher negra
a fundar uma escola de samba no Brasil. Que orgulho!
Ela foi muito batalhadora, pena que não posso mais vê-la, mas quando passo
pela sua estátua, sinto que ela ainda está ao meu lado, me dando conselhos e me
perguntando como eu tenho me sentido. Uma vez, lembro de uma conversa que
estava tendo com Madrinha Eunice, e ela me disse: “Eu te admiro muito, sabia?
Gosto disso em você. Você não desiste dos seus sonhos, você vai atrás deles e,
mesmo com todos os preconceitos que encaramos por causa das pessoas que
acham que as mulheres são fracas, e que não conseguem fazer as mesmas coisas
que os homens… mas isso está errado! Você está certa em resistir ao preconceito e
encará-lo. Não desista dos seus sonhos, menina… não desista!” Levei tão a sério
essa frase que, até hoje, luto pelos direitos que as mulheres têm e ainda terão.
Vamos atrás deles!
Outra pessoa que conheci foi a Aretha Duarte, que é a primeira mulher negra
a escalar o Monte Everest. Depois de ser entrevistada por vários jornais e até sair
na capa deles, entrei em contato com ela e vi o quão batalhadora é.
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