Page 14 - Fios do tempo
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Paraty, Rio de Janeiro, 05 de setembro de 2025.
Prezada Iracema Garcia,
Escrevo para você com o coração apertado, após ter visto você, vivido uma
experiência que jamais esquecerei. A escravidão…
Sei muito bem que a data desta carta é um tanto quanto estranha, você está
em 1791 e eu em 2025, estamos separadas por 234 anos… Mas, ao final desta
carta, você irá descobrir tudo.
Estava no quarto da minha mãe, limpando algumas coisas, quando encontrei
uma caixa velha, cheia de objetos, pinturas e lembranças antigas. Ao encostar em
uma das imagens, de repente fui transportada para o seu tempo. Foi como se eu
pudesse sentir cada detalhe do seu mundo, cada pedra, cada casa e cada pessoa
que passava pelas ruas.
Sou Teresa Garcia, tenho 32 anos. Sou negra, com cabelos cacheados e
olhos castanhos. Nasci no Quilombo do Campinho, que fica em Paraty, no Rio de
Janeiro. Minha comunidade não existia quando você morava na área central dessa
mesma cidade. Moro com minha irmã, meu cunhado e meus sobrinhos. Desde
cedo, aprendi a ser responsável e a lutar pelo que quero. Sou sociável, dedicada e
determinada a conquistar meus objetivos. Um dos meus maiores propósitos é lutar
pela igualdade das mulheres, especialmente aquelas que são descendentes de
africanos e indígenas.
No futuro, serei professora. Estou estudando para isso. Nas minhas aulas,
quero que meus alunos leiam livros escritos pelos nossos descendentes. É isso que
você está pensando, querida amiga. Hoje, os africanos não são mais escravizados.
Há autores renomados que nos representam na literatura. As escolas, agora, são
obrigadas a reservar aulas apenas para a nossa cultura, tentando fazer com que a
sociedade brasileira aprenda a nos respeitar. Depois do fim da escravidão,
enfrentamos muitos problemas causados pela servidão e pelo fato de os europeus
nos considerar inferiores a eles.
Enquanto não me formar para ser professora, tenho um outro trabalho: sou
babá, ou seja, cuido de crianças, pois suas mães trabalham fora de casa e não têm
tempo para cuidar delas. Já sei o que você pensou. Mulheres trabalhando fora de
casa? Pois é, já tem um tempo que nós, mulheres, conseguimos vencer obstáculos
de uma sociedade que, desde o tempo que você viveu, considerava os homens
superiores às mulheres. Para nós, negras, ainda é mais difícil, porque, além disso,
enfrentamos os vestígios de ideias que consideravam os brancos superiores aos
negros. Continuamos lutando! Acredito que dedicação e resiliência são o que nos
faz chegar mais longe.
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