Page 39 - Fios do tempo
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Paraty, 18 de setembro de 2025.

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                       Há alguns dias, fui para o passado por meio de uma máquina do tempo que
               avistei quando estava voltando do trabalho. Eu voltei para o seu tempo, Nigaba, em
               Paraty, onde você morava.
                       Assim  que  cheguei,  avistei  você  descendo  de  uma  embarcação  e  sendo
               comprada  por  uma  família  de  portugueses.  Lá,  sua  única  função  era  cumprir  as
               funções de trabalhar, sem remuneração, para outras pessoas em troca de moradia e
               comida. Essa família era muito rica e tinha uma casa feita de materiais nobres para
               a época. Nesta casa, seu nome era somente “serviçal”.
                       Você teve que abandonar sua religião e foi obrigada a seguir o catolicismo.
               Eu  não  consigo  imaginar  como  foi  ter que deixar sua crença de lado para seguir
               outras crenças. Mesmo sendo obrigada a seguir outras religiões, se mostrou fiel à
               religiosidade  de matriz africana e, em segredo, fazia seus rituais ancestrais. Você
               sempre foi muito apegada a sua cultura, assim como eu, então acabou mantendo
               costumes e hábitos de antigamente.
                       Você  gostava  de  contar  diversas histórias para as crianças da família para
               quem  você trabalhava. Além disso, ensinou brincadeiras a elas se inspirando nas
               que você fazia antes de ser levada para Paraty. Com roupas bem simples de uma
               escravizada, sempre manteve a cabeça erguida e nunca desistiu de seus sonhos.
               Esta é sem dúvida sua principal característica.
                       Eu tenho quatro filhos, e sou uma mulher muito guerreira, assim como você.
               Gosto  de  plantar,  cultivo  plantas medicinais, sou muito ligada à religião de matriz
               africana, danço e canto muito. O Quilombo atualmente tem mais de 200 habitantes,
               e  todos  eles  são  pessoas  muito  guerreiras  e  só  querem  o  melhor  para  os  zeus
               moradores.
                       Criei  um  poema  de  minha  cabeça  que  em  minha  opinião  lhe  representa:
               “Com uma coroa de bravura, você se ergue como uma rainha no campo de batalha.

               Um  coração  batendo  com  coragem, você empunha firmemente sua espada e seu
               escudo.”

                                                                                           Com carinho,
                                                                                            Zola Deandé


                    João Pedro de Lima Pantarotti, Antonio Augusto A. Cavaliere, Fabiano Cristovão
                         Guimarães, João Victor de Freitas Gadducci e Guilherme Bergmann Cabral.





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