Page 40 - Fios do tempo
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Cirlene Eto’o (quilombola atual)
Meu nome é Cirlene Eto’o, tenho quarenta e oito anos e sou uma mulher
quilombola. Resido no Quilombo do Campinho, em Paraty, no estado do Rio de
Janeiro. Moro com meu marido, que se chama Sandro.
Minha casa é feita de tijolos de argila, misturada com palha. Foi construída
com as mãos e o saber dos meus antepassados. Os móveis e os objetos que me
estão na minha casa são vasos, pratos, xícaras, pires, copos. São todos feitos de
cerâmica. Lá, também tem cestas de palha e móveis confortáveis.
Minha avó Amara e meu avô Malik contavam a cultura e tradições de nossos
ancestrais. Uma de nossas antepassadas foi escravizada pelos portugueses no
período colonial. Ela veio do Congo em um navio negreiro, que tinha condições
precárias. Conseguiu fugir para um quilombo.
No meu quintal, cultivo milho, aipim, flores e mandioca. É lá que onde passo
o dia, trabalhando na agricultura, na roça da aldeia. Amo plantar e colher alimentos.
Sou forte, trabalhadora, esforçada e sei controlar bem minhas emoções e
sentimentos.
Minha fé está nas crenças dos meus ancestrais. Acredito na força dos
quilombos, que representam a luta dos negros por seus direitos, desde quando
fomos capturados no nosso território até os dias atuais, em que enfrentamos o
racismo.
Miguel Isaac Santos e Benicio Santiago Barboza
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