Page 44 - Fios do tempo
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Zuri Amara Nala (quilombola atual)
Meu nome é Zuri Amara Nala e tenho vinte e um anos de idade. Moro em uma casa
feita de tijolos, com os móveis todos bagunçados, mas algumas coisas estão bem
organizadas. Tenho uma vida bem difícil, trabalhando no restaurante local, no Quilombo
do Campinho, em Paraty, onde resido. Moro com meus pais, minha mãe se chama
Imani Amara Nala e meu pai é Jabari Amara Nala.
Não consegui estudar por muitos anos, pois comecei a trabalhar muito jovem, para
contribuir com a renda da casa. Além de trabalhar no restaurante, faço tudo em minha
casa para mantê-la limpa e garantir a alimentação de minha família, dando uma
qualidade de vida boa aos meus familiares. Penso muito em minha família e cuido muito
bem de meus pais.
Sigo a religião de matriz africana. Conservar nossos valores tradicionais é
necessário na sociedade em que vivo e, por isso, busco respeitar meus ancestrais, a
natureza, a solidariedade, a caridade e a ética. Acreditamos que o futuro pode ser
melhor e que ficamos protegidos ao praticar nossas cerimônias e cantos.
Não gosto da maneira como as mulheres negras são tratadas hoje em dia, pois
enfrentam desrespeito e desigualdade. Acho inadmissível que mulheres negras sejam
incríveis em suas produções e, mesmo assim, não serem vistas pela sociedade. Muitas
delas possuem saberes e ações que ninguém imagina, é a vida que ninguém vê.
Penso ser importante conservar o patrimônio natural e cultural de nossa
comunidade, para continuar mantendo a cultura de meus antepassados, passando-a
para as gerações futuras. Assim, mostramos que continuaremos, para sempre, a cuidar
de suas terras com muito amor e carinho.
Enrico Lorenzi Berni, Guilherme Palanch de Lima, Leonardo
Kammerer Bocayuva e Rodrigo Bevilacqua Stebulaitis
Colaboração de Manuela Rodrigues Mota
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