Page 45 - Fios do tempo
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Adanna Amani (escravizada do século XVIII)

                       Olá, meu nome é Adanna Amani, nasci no dia onze de dezembro de 1700 e
               atualmente tenho vinte e um anos de idade. Fui escravizada pelos portugueses, que
               eram muito gananciosos em obter lucro.
                       Vivo em uma casa, em Paraty, que pertence aos meus senhores. Permaneço
               na  senzala,  enquanto  não  estou  trabalhando,  o  que  é raro. À noite, é bem difícil
               dormir, pois o ambiente é gelado. Há muitas pessoas juntas em um lugar apertado.
               Sinto-me desconfortável e, às vezes, passo mal.
                         Tenho  três  senhores:  Francisco  Rodrigues,  Manuel  Fernandes  e  José
               Gonçalves.  São  maldosos  e  brutos.  Normalmente,  sou  puxada  brutalmente  pelo
               braço e estou cheia de marcas de feridas.
                       Em meio à escravidão, não consigo pensar em nada, só em sair desse lugar.
               Nunca  parei  para  pensar  como  está  minha  aparência  atualmente,  mas acho que
               seria importante você reconhecer quem realmente sou. Sou uma moça com a altura
               baixa, magra, tenho muitas marcas em diversos lugares do corpo, principalmente de
               violência. Negra retinta, assim sou.
                       Meus  pensamentos  são  muito  confusos,  a  escravidão  nos  deixa
               extremamente  exautos  e  ansiosos.  Estou  em  tristeza  profunda,  não  sei  se,  em
               algum dia do futuro, sairei deste lugar, que me assombra diariamente.
                       Aqui onde vivo, em Paraty, não comemos muito. Vestimos roupas sujas, que
               prejudicam nossa saúde. Sinto-me muito triste por ter de adotar o catolicismo contra
               a minha vontade. Todos os dias, sou obrigada a ir à igreja existente aqui perto de
               minha  casa.  Esse,  definitivamente, não é meu lugar. Quero voltar para a África e
               praticar  meus  costumes  ancestrais.  Desejo  a  liberdade  de  ser  dono  da  minha
               própria vida.
                                          Enrico Lorenzi Berni, Guilherme Palanch de Lima, Leonardo
                                                Kammerer Bocayuva e Rodrigo Bevilacqua Stebulaitis

                                                             Colaboração de Manuela Rodrigues Mota

















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