Page 48 - Fios do tempo
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Makena Yoruba (quilombola atual)

                       Sou  Makena  Yoruba  e  tenho  vinte  e  seis  anos.  Moro  no  Quilombo  do
               Campinho, em Paraty, no estado do Rio de Janeiro. A minha casa é feita com barro
               e  outros materiais, tem telhas na parte de cima e o chão é terra batida. A cor da
               casa  é  marrom  e  os  móveis  dela  são  todos  de  madeira.  Dentro  dela,  há  cinco
               cômodos,  que  são  pequenos,  mas  são  essenciais  para  o  dia  a  dia.  Tenho  uma
               variedade de plantas dentro de minha casa. Elas ficam nos vasos de argila que as
               mulheres da vila fizeram. Na frente e nos fundos da minha casa, há um jardim que
               tem muitas árvores, e dá para ver a vista do quilombo inteiro. Para avistar longe, há
               uma cadeira de madeira feita pelas mulheres da vila. Sento nela e fico pensando em
               toda a história pela qual os africanos já passaram.
                       Sou  a  filha  da  mulher  que  criou  uma  das  escolas  mais  frequentadas  do
               quilombo. Com o passar do tempo, o racismo das pessoas que eu chegava perto foi
               diminuindo,  mas,  infelizmente,  eu  ainda  sofro  por ser negra e leio muitos jornais,
               que  trazem  notícias  de  descendentes  de  africanos  envolvidos  em  situações  de
               racismo.
                       Trabalho  dentro  e  fora  do  quilombo  e quando vou para algum lugar sendo
               quem  realmente  sou,  com  vestimentas  e  acessórios  africanos,  as  pessoas  me
               olham “torto”, me sinto desconfortável. Outro dia, eu estava passando pelo centro
               histórico e veio um turista americano branco e disse: “Eu não vou entrar nessa loja
               cheia  de  gente  suja”,  pois havia muitas pessoas negras no estabelecimento. Isso
               me tocou muito e fiquei tempos sem me aceitar. Mas por outro lado, também temos
               pessoas boas, que elogiam nossa cultura, beleza e trabalho.
                       Os  moradores  do  quilombo  gostam  muito  de  mim,  pois  ajudo  muito  meus
               vizinhos.  Uma  vez,  uma  pessoa  estava  passando  mal  e,  em  minha  bicicleta
               motorizada,  levei-a  até  o  hospital  para  ter  cuidados  médicos.  As  crianças  do
               quilombo são uns amores e muito fofos! Eles me adoram.
                       Minha  vida  toda  estudei  na   escola da nossa comunidade, mas quando fiz
               quinze  anos,  fui  para  uma  escola  fora  do  quilombo  para  fazer  o  ensino  médio,
               chamada “João Apolonio Dos Santos Sadua”. Depois que terminei o ensino médio,
               fiquei  dois  anos  tentando  entrar  em  uma faculdade. Atualmente, estou fazendo o
               curso de Pedagogia em uma faculdade em Ubatuba, uma cidade vizinha. Sou muito
               dedicada aos estudos, para dar muito orgulho às pessoas do meu grupo social e ao
               meu  quilombo,  para  mostrar  que  é  possível  uma  pessoa  negra  ser  formada  e
               trabalhar  em  um  local  digno.  Em  minhas  aulas,  quero  desenvolver  conteúdos
               antirracistas.
                       Atualmente,  moro  com  a  minha  mãe,  Adanna  Abioye,  que  tem  cinquenta
               anos, é muito guerreira e me inspira muito. Meus dois irmãos gêmeos Akin e Ben
               Yoruba têm seis anos, eles são muito agitados e animados, mas são extremamente
               inteligentes.  Minha  tia  Abebe  Furaha,  de  sessenta  e  um  anos  de  idade,  é  muito
               carinhosa e pronta para adquirir novos conhecimentos. Minha avó Ade Yoruba, com



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