Page 41 - Fios do tempo
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Daniele Anaya (escravizada do século XVIII)
Meu nome é Daniele Anaya, tenho 20 anos e nasci dia 13 de maio de 1737.
Sou uma mulher negra, nascida na aristocracia do Congo. Fui raptada e vendida
como uma mercadoria valiosa. Tornei-me uma mulher escravizada. Sou alta com a
pele bem preta e cabelo crespo longo, no qual costumo amarrar lindos lenços
coloridos. Meu pai dizia que a minha pele era como uma noite sem estrelas.
Moro em uma senzala dentro de um casarão. Dentro da casa do meu dono,
há janelas de tipo guilhotina, um telhado de beira-seveira e grades de ferro nas
sacadas. A casa é bonita e grande, mas mora pouca gente.
Nós, escravizados, temos que trabalhar em várias funções dentro da casa.
Podemos ser cozinheiras, faxineiras ou amas de leite. Só assim podemos ficar
dentro de casa.
Na senzala, vivemos apertados, não temos um lugar confortável para dormir.
Há um telhado baixo que muitas vezes não permite que fiquemos em pé. Não tem
janela, há pouca iluminação e, ao longo do dia, não podemos descansar. Há
escravizados que fogem para os quilombos, procurando resistir à escravidão.
Meu senhor, Antônio Joaquim Tavares, de quarenta e sete anos, é um
homem alto e assustador. Anda sempre com o mesmo cavalo preto, conhecido
como Titã. Ele dá castigos longos aos escravizados e não gosta quando cantamos,
na senzala, músicas de origem africana. Sua família é da corte portuguesa.
Miguel Isaac Santos e Benicio Santiago Barboza
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