Page 23 - Fios do tempo
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Sofia Nsoki (quilombola atual)
Meu nome é Sofia Nsoki, tenho dezesseis anos e moro no Quilombo do
Campinho da Independência, que fica em Paraty, no Rio de Janeiro. Sou
descendente de africanos. No dia a dia, sou uma pessoa estudiosa e também
encontro tempo para praticar exercícios físicos. Não sou muito forte, mas me
considero saudável.
Moro com meus pais em uma casa simples, feita de tijolos e coberta com
telhas. Uma casa comum, eu diria. Minha mãe, Mirella Nkosi, tem quarenta e seis
anos e cuida da horta perto de casa, além de ajudar na organização do quilombo,
geralmente fazendo o jongo, que mistura dança com música, crenças ancestrais e
poesia. Nosso quilombo é matriarcal e minha mãe é uma das principais líderes. Meu
pai, Rodrigo Nkosi, tem cinquenta anos, e canta e apresenta atrações para os
turistas que visitam a nossa comunidade.
Minha vida está profundamente ligada às raízes culturais africanas,
valorizadas por todos os membros do quilombo, onde vivemos de forma coletiva.
Aqui, compartilhamos as produções da agricultura e da pesca. Tudo é feito em
conjunto, como se fôssemos uma grande família. Compartilhamos momentos de
brincadeiras, conversas e danças.
Participo das rezas e canções na igreja de São Benedito, que é um santo de
origens africanas. Também escuto a griô do quilombo, que nos conta histórias e
mitos da matriz africana. Meus pais contam que nós seguimos, principalmente, a
matriz africana, mas também acabamos por incorporar elementos do catolicismo,
pois os portugueses obrigavam nossos antepassados a mudarem suas crenças e
serem cristãos. Isso trouxe consequências para nosso modo de vida, mas estamos
empenhados em conservar nossas raízes culturais.
Recebemos muitos turistas, o que nos ensinou bastante sobre como lidar
com pessoas de várias origens. Assim, podemos divulgar elementos de nossa
cultura. Ainda assim, nós, descendentes de africanos, somos extremamente
prejudicados na sociedade, pois ainda vivemos as consequências do período
colonial, momento em que predominava a ideia da superioridade branca. Isso me
deixa triste, porque desde criança aprendi a respeitar todas as pessoas sem
exceção. Tenho esperança de que, no futuro, todos sejam respeitados, sem nenhum
tipo de discriminação.
Miguel Silvério Augusto e Victor Rodrigues Baeta
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