Page 66 - Fios do tempo
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Paraty, 15 de julho de 2025.
Prezada Amélia Silva,
Olá, meu nome é Abigail das Dores Santos e tenho vinte e quatro anos, moro
no Quilombo do Campinho, em Paraty, no estado do Rio de Janeiro. Temos muitas
dificuldades, por causa dos vestígios da escravidão, que já acabou, mas ainda
sofremos porque não somos muito bem vistos. Escrevo esta carta para podermos
entender as relações entre o passado e presente e poder juntar os fios do tempo
que nos entrelaçam.
No nosso país se chama Brasil e não é mais dominado por Portugal. Mas
ainda sobraram algumas coisas , como o racismo, que é uma consequência da ideia
que os portugueses defendiam no período colonial: diziam-se superiores aos
negros. Isso, atualmente, é crime.
Eu fico aqui lamentando sobre como estamos agora, mas, muitas vezes,
penso como era difícil ser escravizada. E sempre que penso em você, paro de
reclamar e penso que tive sorte em ter nascido na época em que nasci.
Agora, temos várias conquistas. Uma delas é a lei das cotas raciais, que
permite que os negros tenham uma quantidade certa de vagas garantidas em uma
universidade, que é uma instituição onde estudamos para ter uma profissão e
trabalhar de forma remunerada .
Hoje em dia, aqui no Quilombo do Campinho, temos várias comemorações,
festas e principalmente danças sobre nossas crenças. Dançamos o jongo. Assim,
honramos tudo o que vocês enfrentaram. Tenho certeza que todos vocês, que
lutaram contra a escravidão, nunca serão esquecidos por nós, isso eu garanto!
Com amor,
Abigail
Daniel, Luiz, Davi, Rafael e Rafael Moreira
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