Page 95 - Fios do tempo
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Dandara Okoro (escravizada do século XVIII)

                              (Texto refeito e complementado por Manuela M. P. Roman)

                        Meu nome é Dandara Okoro, tenho dezesseis anos e nasci no dia oito de
               junho de 1721. Sou uma mulher negra escravizada por uma família de portugueses.
               O pai dessa família chama-se João Ferreira e tem quarenta e sete anos. O nome da
               mãe é Matilde Silva e tem quarenta anos de idade. O casal tem dois filhos: Afonso
               Ferreira, de treze anos, e Tomás Ferreira, que tem nove anos.
                       Sou  originária  da  Nigéria.  Estou  em  terras  colonizadas  pelos  portugueses
               contra  a  minha  vontade.  Fui  comprada  como  um  objeto  e,  a  partir daí, teria que
               exercer  trabalhos  forçados.  Mandaram-me  para  Paraty,  importante  entreposto
               comercial  para  o  envio  do  ouro para Portugal. Sofro muito, pois trabalho demais,
               sou castigada, recebo poucos alimentos e o meu dono toca em meu corpo de um
               jeito que eu não gosto.
                       Sinto muita tristeza, pois sinto saudade de meu país e minha família. Minha
               avó contava-me histórias sobre a nossa cultura ancestral. Procuro contar tudo isso
               para as minhas colegas escravizadas, assim eu posso dividir, com elas, as minhas
               lembranças. Desse modo, também colaboro para perpetuar nosso legado, resistindo
               às imposições dos colonizadores.
                       Quando cheguei à colônia portuguesa, fui obrigada a ser católica. Tive que
               abandonar minha religiosidade de matriz africana. Mas, mesmo assim, continuava a
               pensar  em  meus valores originais. Espero conseguir comprar a minha alforria, ou
               seja, a minha liberdade. Mas sei que, mesmo assim, serei vista como inferior aos
               brancos. Espero que um dia isso mude.

                                    Marco Antônio Hashish Pinheiro, João Ricardo Araujo do Amaral,
                                       Danielle Santangelo de Campos Maia e Miguel Oliveira Llussa



















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