Page 80 - Fios do tempo
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Nós somos descendentes do povo banto. Há aproximadamente 700 pessoas,
               por aqui e, entre elas, crianças e mulheres.   Mas só conseguimos garantir nossas
               terras,  há  pouco  tempo,  pois  antes,  não  tínhamos  nenhum  documento  que
               comprovasse nossa posse.
                       Os  griôs  contam  as  histórias  de  nossos  antepassados  de  geração  em
               geração,  para  que  nunca  esqueçamos  de  nossas  origens.  Somos  ensinados  a
               respeitar os mais velhos. Nossa cultura é matriarcal, ou seja, as mulheres são as
               líderes, mas, diferente de muitos lugares, tentamos deixar os direitos e a realidade
               dos dois gêneros iguais. Eu sei que isso deve ser diferente de tudo o que você já
               viu, porque os homens brancos dominavam vocês, o que é o oposto daqui.
                       Mesmo  com  a  escravidão  finalizada,  nós,  mulheres  negras,  ainda  temos
               muitas  dificuldades,  com  algo  chamado  racismo  estrutural,  que  surgiu  e  vem  se
               estruturando desde 1888, com o fim da escravidão. Somos vistos como criminosas,
               inferiores, não ganhamos o dinheiro necessário para viver, só por sermos negras.
               Temos  visto  notícias  de  várias  cidades,  onde  existe  desigualdade no ensino. Por
               exemplo,  na  cidade  de  Sorocaba,  representamos  apenas  2,2%  das  pessoas  no
               ensino superior. Também sofremos muito por violência. Eu penso no racismo todos
               os dias. Só por que eu sou negra, eu sou suja, criminosa e não mereço os meus
               direitos? Isso não faz sentido nenhum!
                       Mas,  admito  que  muita  coisa  melhorou  de  sua  época  até  agora,
               principalmente por termos o direito de ser livres. E não ficarmos trabalhando o dia
               inteiro, dormindo e comendo na pior condição possível. Você não está sozinha. Há
               fios do tempo que nos ligam e, deles, precisamos tirar forças para prosseguir.
                       Não  desista!  Os  quilombos  são  uma  alternativa  para  você.  Afinal,  você
               prefere  viver  sua  vida  assim  ou  tentar  viver  uma  vida  melhor,  que  você  pode
               inclusive alcançar?

                                                                                     Um abraço, Teresa.

                                           Ravi Mouawad Queiroga , Matheus Santos Tavares e Silva
                                                    Dominic Botelho Borges e  Pedro Melo de Almeida

                                                      Colaboração de Manuela Maria Pechiaia Roman















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