Page 84 - Fios do tempo
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Zola (quilombola atual)

                       Meu nome é Zola e moro no Quilombo do Campinho, Paraty, estado do Rio
               de Janeiro. As casas têm somente o que é necessário para um dia a dia de uma
               vida regada pela simplicidade. Temos cômodos pequenos, poucos móveis. Algumas
               casas ainda estão em construção.
                       Nossos afazeres são:  plantar, colher, pescar, além de outras atividades. Por
               vezes, ficamos muito cansados. Além dessas atividades, tenho que ir à faculdade e
               cuidar dos meus irmãos.
                        Nossa comunidade é um sinal de enorme resistência dos africanos, pois é
               um  local  que  mostra  que  a  cultura  e  a  história  deles  ainda  estão  vivas,  mas,
               infelizmente,  há  quilombos  que  ainda  não  têm  seus  direitos territoriais exercidos.
               Por isso, nós lutamos por nossos direitos.
                       A  minha  família  é  bem  grande, mesmo a casa sendo simples. Temos sete
               pessoas  morando nela: meu pai, minha mãe, eu e meus quatro irmãos. Os meus
               irmãos  se  chamam  Neema,  Simba,  Akin  e  Dumbi.  Meu  pai  se  chama  Kwame  e
               minha  mãe  Imani.  Aqui,  tenho  também  uma  amiga  chamada  Ayana,  ela já é um
               pouco mais velha que eu e estuda Direito em uma faculdade, para ser, no futuro,
               advogada e uma grande representante negra na política .
                       Temos, no nosso quilombo, ascendência africana e, por isso, características
               comuns.  Somos  negros,  temos  o  cabelo  crespo,  um  nariz  mais  aberto  e  muitas
               outras  características.  Eu  sou  uma  mulher  negra,  então  sofro  duplo  preconceito,
               machismo  e  racismo,  isso  me  deixa  muito  mal,  mas  sinto  que  devo enfrentar as
               adversidades.  Muitas  pessoas  falam  que  o  preconceito  mudou,  contudo  eu  não
               concordo, pois ainda tem muita dificuldade de conseguir emprego e outras coisas, e
               quando conseguimos emprego ganhamos, em geral,  muito menos que os homens.
                       Como conseguiremos mudar isso? Eu, como mulher negra, sinto que posso
               contribuir  com  as  outras  mulheres  negras,  ajudando-as  a  denunciar  quem  faz
               racismo, pois muitas têm medo de fazer isso, mesmo quando estão certas. No ano
               passado,  minha  amiga  Ayana,  candidatou-se  para  o  cargo  de  vereadora,  para
               provar  que  mulheres  negras  podem  ter  representatividade  em  uma  sociedade
               racista, mas, infelizmente, não conseguiu se eleger.
                       Depois  dessa triste informação, vou contar mais um detalhe sobre o nosso
               quilombo,  aqui  nós  temos  muitas  estruturas  religiosas,  como  terreiros,  igrejas  e
               muito mais. Eu e minha família seguimos a religião de matriz africana, mas também
               aprendemos elementos do catolicismo.


                                              Carolina Kaori Nati Ohara , Carolina das Neves Wilhelm
                                   Segantini Beatriz Tebom Guimeiro , Luiza Biagi Haipek , Bernardo
                                                    Franco Souza e Gabriel Moraes de Macedo Moura






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