Page 81 - Fios do tempo
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Sofia Oliveira (quilombola atual)
Meu nome é Sofia Oliveira e tenho 38 anos. Sou uma mulher negra que tem
cabelos pretos, uso brincos feitos pelas mulheres quilombolas, uso roupas bem
simples, tenho olhos castanhos e um sorriso que reflete meu brilho e minha história.
Extroversão, simpatia e alegria são características que me descrevem. Tenho
um brilho único que é inexplicável. Por passar por situações de racismo, fico triste,
mas a luta contra isso terá um final feliz no futuro, e isso me deixa feliz.
Moro em uma casa humilde no Quilombo do Campinho, em Paraty, no Rio de
Janeiro. A minha residência é feita de madeira, palha, pedra, tijolos e tem diversas
redes para descansarmos. Moro com meu pai, Reginaldo Oliveira, de sessenta e
dois anos, minha mãe Marcela Oliveira, de cinquenta e nove anos, e meu irmão
Marcos Oliveira, de vinte e sete anos. Meu irmão trabalha como professor da escola
do quilombo, meu pai e minha mãe são aposentados, mas ajudam no restaurante
comunitário existente aqui.
Na nossa comunidade, há mais mulheres do que homens, somos muito
resistentes e lutamos pelos nossos direitos. A comunidade é matriarcal, ou seja, as
mulheres são as líderes. Todos são tratados com muito respeito e dignidade e
estamos em busca de mais igualdade na sociedade. Nós mulheres desenvolvemos
uma coletividade, um papel crucial na luta por direitos e contra o racismo.
O dia no quilombo começa bem cedo. Acordo assim que o sol nasce, tomo
meu banho e vou direto para a minha escola. Quando retorno, vou até o restaurante
com minha família, para comer uma deliciosa feijoada, e fico trabalhando como
garçonete até o final do dia. Quando encerro o trabalho, converso com meu irmão,
às vezes vou até o centro histórico de Paraty, para andar pelas ruas com minha mãe
e, em seguida, vou dormir.
Preservo muito a cultura de meus ancestrais, que é passada de geração em
geração. Por isso, sigo as crenças de matriz africana. Quando tinha três anos,
ganhei um violão de meu pai, desde então tocar esse instrumento virou minha
paixão e, assim, posso ajudar, com a música, a preservar nossas raízes. Além
disso, adoro dançar, principalmente jongo, que é uma tradição para que entremos
em contato com as forças que regem o mundo. Domingo é o dia em que sempre
danço. Durante os outros dias, fico ansiosa para isso.
Bruno Menossi Borceto, Lucas Dai Kusaba, Murillo
Antonio Lopes Branco da Costa e Theo Battaglia Penariol
Colaboração de Manuela Rodrigues Mota
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