Page 83 - Fios do tempo
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Paraty, 5 de setembro de 2025.
Querida Jabari,
Viajei para a sua época através de uma “máquina do tempo”. Sou do século
XXI e fui transportada para o século XVIII, em que existia a escravidão. Jabari, você
estava viva no tempo em que fui ao passado. Mas, antes de contar mais sobre isso,
vou me apresentar.
Meu nome é Sofia Oliveira e tenho trinta e oito anos. Moro no atual Quilombo
do Campinho, fundado após o fim da escravidão, no fim do século XIX, por três
mulheres negras ex-escravizadas, Antonica, Marcelina e Luiza, que receberam as
terras por doação de seus antigos donos.
Moro em uma casa humilde. Aqui, nós, mulheres negras, lutamos pelos
nossos direitos, pois, hoje, ainda vivemos as consequência da sociedade patriarcal
do seu tempo, Jabari. Como você bem sabe, os homens consideravam-se
superiores às mulheres. Isso, hoje, chama machismo. Também não somos bem
vistas por sermos negras. Isso recebe o nome de racismo.
Fora do quilombo, sofremos racismo e nos desprezam por sermos mulheres
negras, coisa que vem desde sua época, mas penso que sua situação era muito
pior. Hoje, estamos em outra situação, tentando combater o racismo estrutural, que
existe desde que houve o fim da escravidão. Penso que está melhorando dia a dia.
Porém, ainda sofremos na busca de empregos e com a violência e a desigualdade
de gênero.
Na minha viagem para o passado, eu vi escravizados. Entre eles, havia uma
moça, que se parecia comigo, mas não falava nada. Era você, Jabari, uma
escravizada que vivia em Paraty. Você era bonita, porém sem condições boas de
trabalho. Suas vestimentas eram bem envelhecidas. Você usava vestidos e
turbantes. Vi também várias pessoas trabalhando no transporte de barras de ouro.
Um conselho, querida amiga: nunca desista de seus desejos, vá contra seus
donos portugueses. Confie em você mesma.
Com amor, Sofia,
Bruno Menossi Borceto, Lucas Dai Kusaba, Murillo
Antonio Lopes Branco da Costa e Theo Battaglia Penariol
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